Você já se sentiu motivado, relaxado ou irritado sem motivo aparente ao entrar em um local? Essas sensações podem ser influenciadas pelo ambiente, que impacta diretamente no nosso humor. Portanto, é crucial estar atento aos objetivos do espaço e como suas características contribuirão para o propósito do local.
No caso das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), esse cuidado deve ser redobrado, pois um ambiente confortável, seguro e tranquilo é fundamental para o bem-estar dos pacientes. Continue a leitura e descubra como o ambiente físico da ILPI impacta no bem-estar do idoso.
Qual a influência do ambiente físico no bem-estar
A ciência já comprovou a relação entre o ambiente físico, as emoções e o comportamento do indivíduo. A disciplina que estuda essa dinâmica é a Psicologia Ambiental e, para isso, usa conhecimento de diferentes áreas, como a Sociologia, Geografia, Antropologia, Arquitetura, entre outras.
Ela avalia como a luz, ventilação, cores, disposição dos elementos, e diversos outros pontos, impactam o comportamento do indivíduo. Esse levantamento é importante para, por exemplo, aumentar a produtividade em locais de trabalho, ou promover o relaxamento em ambientes de saúde.
Mas por que somos influenciáveis pelo espaço físico? A Psicologia Ambiental parte da ideia de que os seres humanos, em qualquer lugar que estejam, necessitam de condições especiais, como iluminação, ventilação, abrigo do sol e calor, ou a ausência destes, para desenvolverem suas atividades.
Se os ambientes em que o indivíduo se encontra não atendem às suas demandas, ele tende a modificar o espaço para torná-lo acessível à sua realidade. O resultado disso são as respostas comportamentais.
O que é indispensável no ambiente físico de uma ILPI
As Instituições de Longa Permanência no Brasil devem atender os requisitos de infraestrutura física previstos no Capítulo II da RDC 502/2021, além das exigências estabelecidas em códigos, leis ou normas pertinentes, quer sejam da esfera federal, estadual ou municipal. Também devem obedecer às normas específicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) referenciadas no regulamento.
Confira algumas exigências da RDC para os ambientes de ILPI:
As ILPIs devem contar com dormitórios para até 4 residentes, separados por sexo, e com banheiro. As dimensões do espaço variam de acordo com o número de residentes, e estão estipuladas na RDC. Por exemplo, a distância mínima entre as camadas deve ser de 0,80m. Os dormitórios devem estar equipados com luz de vigília e campainha de alarme, espaço para guardar as roupas e pertences do residente.
O banheiro deve possuir área mínima de 3,60 m², com 1 bacia, 1 lavatório e 1 chuveiro, não sendo permitido qualquer desnível em forma de degrau para conter a água, nem o uso de revestimentos que produzam brilhos e reflexos.
A sala para atividades coletivas para no máximo 15 residentes, com área mínima de 1,0 m² por pessoa; sala de convivência com área mínima de 1,3 m² por pessoa; e sala para atividades de apoio individual e sócio-familiar com área mínima de 9,0 m². Banheiros coletivos, separados por sexo, com no mínimo, um box para vaso sanitário que permita a transferência frontal e lateral de uma pessoa em cadeira de rodas.
Quando o terreno da ILPI apresentar desníveis, é necessário incorporar rampas para facilitar a movimentação dos residentes. Elas devem ser construídas conforme especificações da NBR 9050/ABNT, seguindo as normas para corrimãos e sinalizações. O acesso externo deve ter, no mínimo, duas portas, uma delas destinada exclusivamente ao serviço. Os pisos, incluindo de rampas e escadas, devem ser uniformes, de fácil limpeza e conservação, além de possuir mecanismos antiderrapantes.
E para que essas adaptações sejam feitas, é importante se atentar ao Art. 19. da RDC: “Toda construção, reforma ou adaptação na estrutura física das instituições, deve ser precedida de aprovação de projeto arquitetônico junto à autoridade sanitária local bem como do órgão municipal competente.”.
Como tornar o ambiente físico da ILPI mais agradável
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece o limite tolerável de 50 decibéis (dB) para a exposição da maioria das pessoas durante a maior parte do tempo. Para efeito de comparação, uma conversa em tom de voz moderado tem em média 50 dB, enquanto que uma com tom de voz elevado tem 60 dB. Nesse contexto, em uma ILPI, o cuidado com o excesso de ruídos merece cuidado redobrado. Afinal, para que os residentes consigam relaxar, o ambiente deve ser calmo e silencioso.
Para cuidar da acústica da instituição é interessante pensar no tipo de ruído que precisa ser amenizado. Caso os sons sejam externos, usar na fachada revestimentos que isolem o som e janelas antirruído são uma alternativa. Nos ambientes internos, mantas acústicas podem ser utilizadas nas paredes, sobre a laje e nas tubulações.
As cores têm relação direta com o comportamento e a sensação, como aponta a pesquisadora Eva Heller, no livro Psicologia das Cores. Segunda a autora, todas as cores têm um significado, porém, ele pode variar conforme a situação. Por exemplo, o vermelho pode estar associado à paixão ou à guerra, já o amarelo pode estar associado à alegria ou à fome.
Antes de pintar as paredes e decorar os ambientes da ILPI, vale uma pesquisa de quais tons transmitem calma. Uma boa opção são tons de verde e azul, preferencialmente, mais claros, cores muito usadas em clínicas e hospitais justamente por terem propriedades calmantes.
O uso da luz natural em ambientes internos traz inúmeros benefícios ao residente. Isso porque, quando bem empregada, tende a ser mais difusa e agradável à visão. Ela também proporciona aos residentes a sensação psicológica de tempo cronológico e climático em que vivem.
Para usufruir dos benefícios mencionados, é fundamental garantir a incidência adequada de luz natural na edificação, com janelas bem posicionadas e que permitam a entrada de luz natural de maneira não invasiva. Cortinas são uma alternativa para dosar a luminosidade.
A RDC pontua sobre as questões de segurança que envolvem os revestimentos usados em ILPIs. Eles devem ser uniformes, antiderrapantes, não produzir brilho ou reflexo, ser de fácil limpeza e conservação. Essas características aumentam a segurança do ambiente, reduzindo as chances de acidentes.
Além disso, é importante pensar em como os revestimentos podem contribuir para o conforto térmico dos ambientes. No verão, devem manter o ambiente fresco e, no inverno, evitar a perda de calor. Também é válido pensar na estética do revestimento, afinal, ela também impacta no bem-estar do idoso.
Estudo revelou como os moradores de ILPIs estabelecem conexões com seus espaços pessoais, delimitados pela cama e o móvel de cabeceira. Isso destaca a importância da escolha dos móveis nas ILPIs.
As camas devem atender as necessidades do residente, que em alguns casos demanda por camas hospitalares, os colchões confortáveis e revestidos com capas de proteção. Também deve haver um móvel para guardar pertences, que vão de roupas a objetos de valor sentimental, como livros e fotografias.
Em alguns casos também é necessário um móvel de apoio para “comadres e papagaios” quando o residente fizer uso. E para promover maior individualidade em quartos compartilhados há a possibilidade de incluir entre as camas biombos e cortinas (sempre verificando com os órgãos reguladores).
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FONTES:
https://revistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/download/36603/24978/101235#:~:text=De%20acordo%20com%20Milaneze%20(2013,e%20clim%C3%A1tico%20em%20que%20vive.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51771991000100008
http://www.encontro2017.abrapso.org.br/trabalho/view?ID_TRABALHO=1812
https://jornal.usp.br/atualidades/vida-saudavel-apos-os-60-anos-pede-moradia-conectada-as-emocoes/
https://estudosemdesign.emnuvens.com.br/design/article/view/1519
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2020/rdc0502_27_05_2021.pdf
https://link.springer.com/article/10.1007/BF01905888?utm_medium=website&utm_source=archdaily.com.br